Conversas comKids: infâncias e diferenças

Produções culturais podem ser valiosas experiências de diversidade e de alteridade para crianças e adolescentes. Narrativas de ficção são como um “ensaio de vida” para as novas gerações, segundo a escritora, educadora e diretora editorial da editora Pulo do Gato, Márcia Leite, uma das convidadas do Festival comKids – Prix Jeunesse Iberoamericano 2015, que será realizado em São Paulo.

Para Márcia Leite, ter acesso a produções de qualidade na infância abre novas perspectivas e lentes para ler o mundo. A escritora é uma das integrantes da Conversa comKids Diversidade e potência das infâncias e juventudes, nesta terça-feira, dia 18 de agosto, às 20h30, no Sesc Consolação (senhas serão distribuídas meia hora antes do evento).

Ela antecipou por email algumas reflexões bacanas sobre o tema.

comKids – Como a produção cultural pode contribuir para potencializar, entre crianças e jovens, a capacidade de compreender melhor “o outro”, suas diferenças e diversidades?

Márcia Leite – Quanto mais recursos uma criança ou um jovem tiver para nomear e entender aquilo que vive e sente, quanto mais forem capazes de reconhecer e de expressar seus medos, angústias, desejos, raiva, esperanças, frustrações etc. por meio da linguagem e do diálogo, mais recursos internos estarão adquirindo para se tornarem adultos capazes de ler e compreender a realidade e o outro, e, consequentemente, mais condições de interagir com as diferenças, as diversidades e as adversidades por meio do entendimento.

Ter acesso às produções culturais e artísticas durante a infância e juventude pode promover oportunidades preciosas para que a criança e o jovem se coloquem no lugar de alguém diferente, vejam o mundo com lentes antes desconhecidas, surpreendam-se com outros pontos de vistas, outros enfoques, potencializando a construção dos processos de autoconhecimento e da empatia.

comKids – Como educadora e escritora infantojuvenil, como você avalia a importância da abordagem de temas considerados “difíceis e incômodos” – tais como dramas sociais e relações conflituosas das mais diversas tonalidades – nas narrativas para jovens e crianças?

Todos que de alguma forma convivem com crianças e adolescentes sabem o quanto crescer é difícil, pois esse processo solicita deles, a todo instante, uma prontidão para o confronto com o desconhecido, com o que nunca foi experimentado.

Se a vida pode (e quase sempre costuma) ser difícil e incômoda com as crianças, então não deveria haver tanta dificuldade e resistência – por parte dos adultos – de aproximá-las de histórias que falem sobre todos os temas da vida, os confortáveis e os desconfortáveis.

Considero a narrativa ficcional como uma necessidade humana de viver uma espécie de “ensaio de vida”, sejam eles de perdas, de conquistas, de descobertas, de angústias, de dúvidas, de… Poderíamos talvez afirmar que a literatura favorece a construção de uma espécie de “Educação sentimental” de todo ser humano. No caso dos leitores crianças, principalmente, as narrativas oferecem uma estrada segura por onde transitar enquanto desenvolvem a capacidade de simbolizar, de entender e dar sentido ao mundo por meio da linguagem.

Por meio de um personagem, a criança pode falar das coisas que sente sem que precise se manifestar com sua própria voz.  Pode gritar pela voz de outra pessoa.  Pode imaginar uma vida que não teria condições de sonhar sozinho. Pode se colocar no lugar do outro sem precisar viver outra vida.

Conversa comKids “Diversidade e potência das infâncias e juventudes”
18 de agosto
das 20h30 às 22h30 (Senhas distribuídas meia hora antes do evento)
Sesc Consolação – São Paulo

As inscrições para acompanhar as categorias audiovisuais e interativas do Festival comKids – Prix Jeunesse Iberoamericano são gratuitas. Conheça toda a programação aqui.

Foto: La cocina de Tomás, Argentina, 2015. Dir.: Diego Cagide, prod.: Malabar TV.

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