De representações e estereótipos. O desafio da diversidade

Por Valeria Dotro.

Nós que trabalhamos nos meios de comunicação, sobretudo com realização e produção de conteúdos audiovisuais, sabemos que os meios produzem representações do real e sabemos também que essas representações podem se converter facilmente em estereótipos.

Em qualquer relação de representação, há duas figuras: a do representante e a do representado. E, nessa representação, há sempre uma tradução, ou seja, não há um reflexo exato, senão uma interpretação por parte do representante.

Como explica Sandra Carli, em seu artigo “Representação. Balanços e Dilemas”, no nosso tempo as infâncias são menos representáveis como vindas de um discurso universal, como foram alguma vez da Escola, da Igreja, da Família e do Estado.

As infâncias contemporâneas são mais difíceis de se representar, caso nos proponhamos a compreendê-las em suas experiências múltiplas. Além disso, pela existência de uma enorme variedade de representações visuais e estéticas que propõem signos universais e homogêneos, carregados de uma neutralização das experiências históricas diversas da sociedade infantil, isso se torna ainda mais difícil.

Isso significa dizer que a maior parte das representações visuais, estéticas, enfim… midiáticas de meninos e meninas são absolutamente universalistas, deixando de lado a diversidade, os distintos modos de ser menino ou menina, de ser aluno/a, de ser filho/a, de se divertir, de aprender.

E, nesses modos esquemáticos e homogêneos de representação corremos o risco permanente de gerar e produzir estereótipos.

Um caso claro e atual poderia ser, por exemplo, o das princesas. Que imagem ou representação aparece para nós quando mencionam para nós uma princesa? Com certeza, uma como esta:

latinlab_barbie1

E muito dificilmente uma como esta:

latinlab_barbie2

É que os estereótipos – crenças, juízos de valor sobre as características de grupos de pessoas (as loiras, burras; os homens, fortes; as princesas, loiras e apaixonadas), funcionam, basicamente, pela força da representação.

Algumas chaves para a representação da diversidade

Uma das dicas para nós que pensamos, produzimos e realizamos conteúdos audiovisuais para os meninos e meninas é trabalhar por uma estética que reflita outra concepção da criança, com respeito a suas possibilidades e necessidades e que tenha como objetivo enriquecer seus mundos e refletir suas complexidades. Mostrar outras formas de vida que sucedem em diversos espaços e lugares do mundo é um dos modos de se aportar o conhecimento do outro e o respeito pela diversidade.

Na produção desta nova estética, é fundamental:

– Propor diversidade de protagonistas, tanto principais como secundários, não somente em relação com o gênero (tanto para meninas como meninos), mas também nos lugares onde vivem, seus modos de falar, suas famílias, seus jogos, suas opiniões.

– Não reforçar estereótipos quanto a traços de personalidade segundo o gênero. Por exemplo, não trazer tipos de jogos associados a meninos e meninas de maneira diferenciada (por exemplo, jogos de aventura ou jogos de bonecas). Os personagens, tanto meninos como meninas, têm que aprender cada uma das tarefas e jogos, e desenvolver as mesmas qualidades.

– Nas situações de interação, apresentar sempre grupos heterogêneos, nos que haja igualdade de representantes meninos e meninas. Sabemos que aqueles que interagem somente com pessoas que têm o mesmo gênero desenvolvem atitudes e comportamentos mais estereotipados.

– Valorizar as diferenças dentro do grupo, não associadas ao gênero, mas a outros traços de personalidade, que dêem conta de ambos os gêneros, frente a uma mesma característica (por exemplo, o mais divertido ou a mais divertida).

– Incluir diferentes vozes, linguagens, sotaques e modos de expressão entre os meninos e meninas na tela. Ter sempre presente a integração de meninas e meninos com deficiências em todos os tipos de papeis e personagens não unicamente em função de cumprir com uma participação nominal.

(foto do destaque: Medialuna y las noches mágicas – Argentina – finalista do comKids 2013)

Latin Lab

LATINLAB é um laboratório de investigação, criação e reflexão em torno da televisão infantil e das multiplataformas na América Latina.

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