Interatividade criativa com o público infantil no Youtube

A inspiração para a primeira aventura de Charlotte nasceu de uma noite de insônia da filha de Vivian Suppa, a ilustradora da série, também escritora e artista plástica. A menina, hoje com 20 anos, à época estava no começo da adolescência e durante uma crise de insônia apareceu no atelier da mãe para questionar sobre os problemas sociais do mundo. As perguntas da filha não eram nada simples: E como deixam isso acontecer?

Suppa conta que a conversa sobre a complexidade da pergunta avançou noite adentro e combinaram de escrever um livro sobre o poder da educação e de atitudes que podem fazer a diferença. “E foi aí que a gente criou esses óculos mágicos que fariam com que as pessoas vissem como o mundo poderia ser. Ao tirar os óculos, fica a motivação para que se pense de que modo é possível agir pela solução de problemas”, conta a ilustradora.

Animação no Youtube

O livro foi publicado em 2016 e o projeto cresceu além da literatura. Desde o ano passado Charlotte passou a protagonista de série de animação em canal do Youtube, com criação de Suppa e do dramaturgo, ator, diretor e apresentador Miguel Falabella. A direção geral é de Filipe Fratino. Confira aqui a entrevista com o diretor.

Os óculos mágicos de Charlotte

Suppa conversou com a gente sobre o processo de criação e desenvolvimento da personagem e contou como o projeto foi se aperfeiçoando com ajuda da interatividade das crianças. “As crianças nos ensinaram como o canal deveria ser feito” .

comKids – Os óculos mágicos fazem Charlotte ver o mundo “como ele deveria ser”, mas não são um instrumento escapista da realidade, pelo contrário, são um estímulo para a transformação. Poderia contar como foi esse processo de escolha?
Ao tirar os óculos as coisas continuam como estão. A realidade não muda, não é como um super-herói que põe a capa para voar. Ela só vê o que queria mudar e pensa como poderia resolver os problemas que encontra. Isso é tratado no episódio do bullying, por exemplo. Essa nova geração é isso. Acredito muito nisso.

– Como Charlotte transcendeu o livro e se tornou um projeto maior, agora em canal de Youtube?
Começou com o Filipe Fratino. Sou amiga do Felipe há 15 anos e a gente tinha um sonho junto. Como Fratino produz, faz filme e animação, ele falava em animar meus livros. Para mim também era um sonho, não via a hora de meus personagens criarem vida. Quando fiz esse livro e tive eco de várias pessoas sobre a força da personagem, inclusive da editora, eu liguei para o Fratino e apresentei o projeto. Foi então que ele propôs: Vamos começar? Vamos fazer uma animação?

No começo a gente fez o Catarse (campanha de financiamento coletivo) para montar um piloto e tentar vender o projeto para televisão – era o que a gente queria na época. Pensei no Miguel Falabella para fazer um vídeo para divulgar o Catarse e quando ele viu o projeto, adorou, e passou a fazer parte como roteirista.

Foi aí que tudo aconteceu. Agora, a questão é que vender para TV é muito burocrático, é um processo que demora, e a gente não podia ficar com Charlotte parada, esperando tudo isso. Então quem teve a ideia foi o Fratino: E se a gente abrisse um canal no Youtube e criasse um outro formato pra Charlotte em episódios curtinhos e como se ela fosse uma youtuber?

Canal da Charlotte no Youtube

– E como foi passar a criar para a internet? Foi uma virada para o projeto Charlotte?

Sim, porque não eram mais só pequenas histórias. Agora a gente tinha uma personagem que estava no comando dos episódios. Nós tínhamos uma blogueira, que hoje é uma youtuber. Conforme a gente foi fazendo, a gente foi mudando.

Hoje a gente entendeu a nossa fórmula, que já passou por várias mudanças. Não adiantava só colocar episódios de aventura, era preciso que ela aparecesse falando ao público. Em alguns episódios, por exemplo, ela responde aos comentários das crianças. São episódios que bombam. As crianças nos ensinaram como o canal deveria ser feito.

– Charlotte tem sete anos. Como é criar para esse público, pensando na interatividade?

O forte no nosso público é de 5 a 8 anos. Até 9. Charlotte tem 7 anos de idade porque tudo começou com a história da perda de um dente. E eu tinha preocupação de que ela já soubesse ler, para incentivar a leitura. E não tem muita coisa para essa faixa. Tem muita oferta para os pequenos, muito para os pré-adolescentes, mas essa faixa ficou no meio-termo. Além disso. Essa questão de youtuber combina com essa faixa.

Aprendi que eles gostam dessa independência da Charlotte. Quando ela fala: A gente pode resolver. Aprendi também que as crianças ficam realmente encantadas pelo fato desses óculos mostrarem um mundo melhor. A gente recebe vídeo de diversas cidades, com diversas realidades. Eu não coloco tudo no ar, mas eles mostram a casa deles, a rua deles. Eles pedem que Charlotte use os óculos mágicos para mostrar como o lugar poderia ser diferente, então eu desenho e mando para eles.

É um trabalho que vai além de muita coisa. Encontrei um público que realmente está preocupado com isso. Se eles não estivessem, o projeto não ia dar certo.

– Poderia contar um pouco do processo de concepção das cores e do universo animado de Charlotte?

Vários ilustradores amigos meus me perguntam isso, mas eu não faço uma paleta de cores antes de começar. Mas no meu trabalho eu não coloco todas as cores num só desenho. E isso é uma crítica que eu faço à maioria dos desenhos animados, que colocam todas as cores num só desenho. Como a criança não se perde em um desenho sem profundidade? Eu estava preocupada no visual para criança, para não fosse algo atordoante. E na criação do desenho animado também nos preocupamos com isso.

Fonte das imagens: Divulgação

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