Outros formatos na produção audiovisual infantil

O Festival Prix Jeunesse, realizado a cada dois anos na Alemanha, capta algumas das maiores inovações em TV infantojuvenil ao redor do mundo. A edição de 2016 trouxe boas surpresas em formatos e em criatividade, para falar de temas pouco abordados nas produções para esse público.

Na categoria 7 -10 anos ficção, a competente Australian Children’s Television Foundation (ACTF), Austrália, ficou entre os primeiros colocados com “Little Lunch”, tanto no júri dos profissionais como no júri infantil. A comédia de 26 episódios de 12 minutos, em live action, é uma adaptação da bem-sucedida série de livros de Danny Katz , ilustrada por Mitch Vane. Com um formato original, o programa retrata situações da hora do lanche na escola, sob o ponto de vista das crianças, através de depoimentos bem humorados, em sequências de corte e edições, num encadeamento de casos, em sinergia direta com a audiência. Divertido e autêntico, a série retrata histórias do recreio que, apesar de australianas, foram muito bem recebidas e percebidas como universais.
Veja um episódio.

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Australian Children’s Television Foundation (ACTF), Austrália, Little Lunch

As surpresas vindas da Noruega e Holanda sempre causam grande impacto nos profissionais que participam do Festival. “Sofia Flux” – episódio da série Puberty: Vagina and Menstruation, foi motivo de conversa e debate no decorrer de todo evento. É incrível e maravilhoso como os noruegueses e holandeses conseguem ser simples e diretos ao tratar de temas tão fundamentais, quase nunca encarados de frente por muitos países de nosso continente. Com humor, clareza e roteiros bem espertos, sem a necessidade de abusar das linguagens gráficas e animadas para explicar detalhes sobre o aparelho reprodutor feminino, a vagina e o processo da menstruação, o programa entra em um vestiário feminino de pré-adolescentes e usa modelos reais para ir direto à questão de forma brilhante. Assuntos como crianças que lidam com a morte de seus cachorros, garotos refugiados afastados de suas famílias, crianças transsexuais, meninos que nascem em corpo de meninas são tratados de forma honesta e muito direta nas TVs públicas desses países.

Chile e Argentina representaram bem a América Latina com produções de qualidade e duas delas merecem destaque em inovação. “Mentira la Verdad -Feminino” é um episódio da série de filosofia para jovens, produção da Mulata Filmes para o Canal Encuentro. Traz o pensador Darío Sztanszrajber desafiando o senso comum, provocando tensões em torno de temas da política, da vida e de grandes angústias de nosso tempo. Num formato original, a série arrisca e convida a audiência a refletir sobre a realidade e a forma de pensar.
No episódio sobre o feminino, Dario coloca questões sobre identidade, sexualidade e liberdade, numa narrativa pessoal surpreendente.

Porto Papel, da Zumbastico Estudios, recebeu o prêmio Beyond TV. Criada para abraçar conteúdos digitais e interativos a partir de séries de TV, essa categoria elegeu a produção chilena que, ao contar a história de Matilde, uma garota de12 anos com poderes fantásticos, convida as crianças à página na web onde podem recortar os personagens em papel, montar e criar suas próprias histórias. Com apurada técnica de stop motion combinada, criatividade e imaginação, a série penetra no ambiente infantil com a linguagem das artes manuais das oficinas artísticas para crianças.
Vejam o making of da produção.

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Porto Papel, Zumbástico Estudios.
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The Wish Fish, de Karel Janak (Czech TV, República Tcheca)

Reconhecidos como excelentes contadores de histórias e competentes narradores audiovisuais, diretores do Irã e da Republica Tcheca estiveram presentes com produções infantojuvenis cheias de poética e frescor. “The Skeleton”, do Irã, e The Wish Fish, da CzechTV , de Karel Janak que conta a história fantástica de Simon, de 8 anos, que se vê em apuros após achar no rio uma garrafa com um peixe dourado durante uma temporada de camping com a família.

Outros programas focalizando os temas de superação e coragem estiveram presentes no festival e cada vez mais se firmam como histórias importantes a serem bem contadas e mostradas em meios tão penetrantes e poderosos como a televisão.

Beth Carmona

Direção geral e editorial do comKids.

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