A arte contemporânea como uma possibilidade de escuta das expressões das crianças

Por Denise Nalini

Postagem originalmente publicada no portal do Mapa da Infância Brasileira.

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Divulgação.

As crianças de zero a três anos em suas aprendizagens são movidas pela percepção sensorial, pelo movimento e por uma necessidade de participação, elas estão centradas em seu processo de produção e criação de brincadeiras. Esse é o mesmo movimento que muitos artistas contemporâneos têm buscado em seus modos de fazer. Podemos, dizer que existe, entre a poética da criança pequena e os modos de fazer da Arte Contemporânea uma similaridade de temáticas e de procedimentos que permitem uma conexão entre as experiências das crianças e os assuntos, temas, processos, produtos, performances e intervenções entre outros modos de fazer arte, que muitos artistas contemporâneos trazem em seus trabalhos. A possibilidade dos professores conhecerem a Arte produzida hoje é uma possibilidade significativa de ampliação dos campos de experimentação e sentidos das crianças. É nesse sentido, que podemos dizer da existência de um diálogo entre a produção realizada no agora e os saberes e fazeres das crianças.

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Saberes e fazeres das crianças. Divulgação.

É nesse sentido que o contato dos professores com a Arte Contemporânea, num contexto formativo dá visibilidade às construções das crianças. Podemos citar, por exemplo, a ênfase dada ao corpo como suporte e meio na arte atual e a necessidade da gestualidade, movimento e ação no contexto da aprendizagem infantil. Provocar diálogos entre as crianças e artistas como Hélio Oiticica, Ligia Clark, Olafur Eliasson, Antony Gormley e Amélia de Toledo entre outros, poderia vir a ser uma criação de espaços-tempos para instigar e inspirar as professoras para pensar sobre seu ambiente, as relações, o cuidado e, sobretudo, a autonomia a ser construída com as crianças.
Essa interface entre Arte Contemporânea e as crianças pequenas foi o que originou o Projeto Conexões [1] que criou um contexto interessante para a formação dos professores; partindo de um olhar para os saberes das crianças para buscar compreender como esses artistas poderiam ampliar os campos de experiências em que as crianças estavam agindo.

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Vivência com arte. Divulgação.

Um aspecto importante é que, nesse cenário, o professor se torna um pesquisador, que vivência uma pesquisa e intervenção pautada num olhar sobre a criança. Tanto ele, quanto a criança estão envolvidos numa busca de sentidos. Para apoiar o professor na investigação de sua prática, partimos da elaboração de sequências didáticas (uma série de atividades que são construídas partindo das hipóteses iniciais do professor a respeito de como essas ações podem criar campos de experiência ampliados com as crianças). Na construção desse processo o professor, assume o lugar de quem reflete antes da ação, durante a realização das sequências e após a realização deste trabalho, construindo uma sistemática de observação e acompanhamento, documentada e constantemente retomada. A inserção artística dos professores, as visitas aos Museus e a ênfase em experiências estéticas vividas alargou as percepções e ampliou culturalmente as atividades criando diálogos com as crianças. Essa é uma forma de construir conhecimentos e de aprender a tomar decisões, questão central na prática educativa. Dessa maneira as situações formativas propiciaram que o conhecimento criasse sentido para os professores e para as crianças, pois está inserido na dimensão das percepções, sentimentos e sentidos em contextos históricos – sociais nos quais educação, cultura e sociedade interagem criando novas relações e saberes.

[1] Projeto de Formação de Professores realizado em 14 creches da Região Sul da Cidade de São Paulo. Realizado pelo Instituto Avisa lá, CENPEC, IMPAES de 2013 a 2016, com a participação das formadoras: Cinthia Manzano e Mariana Americano

Denise Nalini é Consultora em Arte, Educação Infantil e Cultura.

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