A coprodução na TV infantil

Por Mariana Loterszpil

Cada dia mais, a busca de estratégias de coprodução instala-se como um modelo de negócios na TV infantil que permite aos canais e às produtoras conseguir programação a um custo mais baixo, levar adiante projetos grandes que não poderiam fazer sozinhos e/ou ter, nas suas telas, produções que trazem imagens e histórias de outras partes do mundo.

Existem dois modelos de coprodução que são muito utilizados:

1) O primeiro tem a ver com a participação de mais de um país, ou de vários canais em um só projeto, no qual cada sócio aporta uma parte do custo total da série ou do projeto em função das possibilidades e obtêm os direitos da série em um percentual representativo do aporte realizado.

O formato surge de um dos países ingressantes na coprodução. Os demais países não só acompanham a linha editorial como também financiam o projeto, ficando com os direitos exclusivos de exploração em seus territórios e repartindo algum percentual das vendas, segundo a participação de cada um.

Exemplos desses casos são programas como “O show de Perico” formato da Señal Colombia coproduzido em sua segunda temporada com o canal Pakapaka da Argentina, ou “Tonky” uma coprodução entre Brasil, Uruguai, Argentina e Holanda, entre canais e produtores independentes.

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Tonky, Tournier Animation
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O show de Perico, dir. Maritza Sánchez e Carlos Millán, prod. Senãl Colombia e Pakapaka

Outro modelo similar a esse é o de “La gran pregunta”, uma coprodução que envolveu a BBC, a SVT da Suécia, entre outros canais europeus, e também o Pakapaka, da Argentina e Señal Colombia. Esses últimos canais puderam ser parte de um projeto grande, ingressando com um percentual muito pequeno e obtendo os direitos exclusivos em seus respectivos territórios.

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“What’s the big idea?” Planet Nemo Animation, Skyline Entertainment Productions, CBeebies

2) O segundo modelo trabalha sobre um formato que um canal propõe, por exemplo, e cada sócio, ao invés de realizar aportes em dinheiro, produz um capítulo da série proposta, respeitando uma guia / manual de estilo para que toda a série se mantenha sob os mesmos parâmetros artísticos e técnicos.

Nesse caso, cumprindo com o manual / guia de realização, cada parte assume o seu próprio custo: produzir uma peça de determinadas características no Brasil não custará o mesmo que fazê-la na Argentina.

Então cada canal / país / participantes compartilha as suas realizações com o restante dos colaboradores e têm acesso à totalidade da série. Geralmente cada um faz entre três e quatro segmentos ou programas de uma mesma série, e isso faz parte da totalidade do projeto. O proponente do formato encarrega-se dos gráficos de abertura e fechamento e compartilha esse material com o resto dos participantes.

Um exemplo desse tipo de produção é a série “La lleva Latinoamérica”, um formato que surgiu do projeto da Televisión Infantil Cultural de la Dirección de Comunicaciones del Ministerio de Cultura (Argentina) e contou com a participação do Pakapaka (Argentina), Universidade de Guadalajara (México) e Funglode (República Dominicana).

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“La lleva internacional”, Televisión Infantil Cultural de la Dirección de Comunicaciones del Ministerio de Cultura (Argentina), Pakapaka (Argentina), Universidade de Guadalajara (México) e Funglode (República Dominicana).

Em termos de direitos, todos participam em partes iguais apesar de ter assumido diferentes custos de produção. Finalmente, o produto é o mesmo para todos, cada país / sócio mantêm a exclusividade em seu território e os lucros posteriores são divididos em partes iguais.

Buscar sócio coprodutores é uma tarefa difícil e leva tempo. Quando conhecemos bem o nosso projeto, podemos pensar em condições atraentes para que eles sejam seduzidos pela proposta.

Ao mesmo tempo, estamos desenvolvendo ideias e programas para os meninos e meninas, e isso implica em uma responsabilidade social por trás daquilo que fazemos.

Muitas dessas alianças começam nos encontros entre os profissionais do setor nos festivais, concursos e evento de mercado.

Quando buscamos um sócio coprodutor, levemos em conta alguns desses pontos:

– Quanto vale o seu projeto como um todo?

– Quanto disso estamos dispostos a custear nós mesmo para que o projeto aconteça?

– Quanto precisamos pedir?

– Quem são os parceiros aos quais iremos pedir?

– O que iremos oferecer em troca? (países exclusivos de venda, merchandising, modelos de distribuição).

Este último ponto é fundamental porque é com ele que o coprodutor pode pensar em recuperar o seu investimento.

Por Mariana Loterszpil

Latin Lab

LATINLAB é um laboratório de investigação, criação e reflexão em torno da televisão infantil e das multiplataformas na América Latina.

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