TV Piá e o protagonismo das crianças

Um programa nacional de TV para crianças, que percorreu mais de 30 cidades brasileiras, foi um dos ganhadores do prêmio entregue pelo júri infantil do Festival comKids Prix Jeunesse Iberoamericano, realizado este ano, em São Paulo.“Percorremos de carro mais de 5 mil quilômetros. Fomos literalmente do Oiapoque ao Chuí, das capitais a até lugares de difícil acesso como o sertão do Ceará e cidades ribeirinhas no Amazonas”, conta Dilea Frate, diretora do TV Piá, veiculado na TV Brasil por três temporadas.

A palavra piá, de origem tupi-guarani, significa criança. E o slogan do programa – Onde adulto não pia – era justificado. No TV Piá, não havia apresentador. Era dos pequenos o poder do microfone, entre entrevistas e depoimentos. Dilea escolheu esse formato com base na experiência de 30 anos de televisão, do jornalismo na TV Globo a programas de talk-show. “Acho perigoso a criança se fixar em uma imagem projetada na TV e tentar corresponder a ela. Também acho perigosa a obrigação do trabalho contínuo, o que não existia no TV Piá”, explica.

Além de fazer gravações no Brasil, o programa ainda contou com filmagens realizadas na França, na Itália, Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Guiana Francesa. Dilea conta algumas dificuldades iniciais do projeto. “Sempre fui ligada a grandes empresas de comunicação, com toda infraestrutura disponível. No TV Piá, tive de me estruturar numa produtora independente, a Piaventura, e reaprender a fazer TV de um outro jeito.”

Sem elenco ou texto pré-definido, o TV Piá era um exercício de diversidade na TV, com crianças de várias etnias, classes sociais e culturais. Segundo a própria diretora, a montagem era um verdadeiro quebra-cabeça para preservar a espontaneidade infantil em temas dos mais variados, da cultura oriental ao meio ambiente.

Gente grande em primeiro plano só chegou a aparecer na primeira temporada do programa, no quadro “Adultos Hoje, Crianças Ontem”, que saiu do ar por falta de aceitação entre os pequenos. “Eu perguntava para as crianças: mas vocês não gostam de ver o adulto quando era pequeno, falando da infância? Elas respondiam: Não. Nós preferimos ver crianças mais velhas, mas não tão velhas assim. Criança sempre pensa para frente, nunca para trás.”

Olhando também para frente, Dilea conta que o ciclo do TV Piá dentro da TV Brasil foi finalizado, mas tem novos planos em vista. Já começou um Road-Movie de 12 minutos, gravado em várias regiões do País, voltado ao olhar das crianças, e deve lançar um novo livro infantil ainda este ano.

Foi justamente a literatura infantil que conectou Dilea a esse público. Ela lançou o primeiro livro para crianças em 94 e o contato maior com os pequenos leitores despertou o interesse também em produção audiovisual. “Toda a minha vontade de fazer TV para crianças nasceu dessa experiência que tive com elas nas escolas, por causa dos livros. Reparei que havia pouca coisa no Brasil que aproveitasse a criança como ela é; inteligente e opinativa. No TV Piá, a criança foi a protagonista absoluta, inclusive com textos e opiniões. Procuramos seguir uma linha documental divertida”, explica.

Dos livros para a TV e agora da TV para os livros. A experiência com as gravações inspirou a diretora para o próximo lançamento literário, “Quem Contou”, pela Cia das Letrinhas. “Usei neste livro muitas histórias que me foram contadas por crianças durante as gravações do TV Piá. Criar esse produto foi uma troca”, diz Dilea, que também gostaria de filmar as histórias dos próprios livros dirigidos ao público infantil.

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Giovana Botti

Redatora do site

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