Um mundo de papel na TV

Papel no lugar dos tradicionais bonecos, modelos ou das massas de modelar. A técnica “paper motion”, utilizada na série de animação infantil Porto Papel que estreou no canal Gloob, é a construção, em papel, de personagens, cenários e objetos de cena, criados de forma manual e movimentados por um esqueleto interno de aço, com animação em 2D. Da Zumbástico Studios (Chile), produtora da série, o diretor Álvaro Ceppi falou ao comKids sobre a concepção e realização do projeto.

Puerto papel, divulgación
Puerto papel, Álvaro Ceppi e Hugo Covarrubias, divulgação.

O início do projeto

“Foi a necessidade do projeto que levou à coprodução. A ambição do projeto requeria um orçamento que seria muito difícil de levantar localmente. Ambicioso no sentido de que a ideia era gerar um universo de papel. Qualquer série de animação sempre é ambiciosa, por inventar uma realidade: visual, sonora, etc. É uma página em branco de onde vão surgir os personagens, as locações, as histórias, etc. Então sempre um projeto de animação é ambicioso nesse sentido. Mas nesse caso, em particular, o ponto era que teríamos que criá-lo em uma técnica que não existia. Na nossa equipe, trabalhamos com cerca de 50 pessoas por dois anos, desenvolvendo roteiros, desenhando o sistema de animação, personagens”.

Quatro países em coprodução

“É possível dizer que isso seria uma loucura, pela quantidade de feedbacks que se poderia receber. Mas devo dizer que, na verdade, foi uma produção que fluiu muito bem, inclusive na relação com os coprodutores. Ganhamos muita confiança dos coprodutores no projeto. Acredito que no momento em que conseguimos depurar estética e narrativamente a série, como também a história. Os coprodutores gostaram muito e, de alguma maneira, conquistamos a confiança deles para poder seguir com o conceito adiante. Foi um processo muito construtivo”.

Pesquisa de arte

“Não que tenhamos sido adivinhos, mas sabíamos que a série se dirigia a um grande público latino-americano e talvez mundial, teria que ter caráter universal. Quando começamos a desenhar a arte, por exemplo, pesquisamos três portos distintos: Salvador, na Bahia, Cartagena de Indias (Colômbia) e Valparaíso (Chile), sendo que Valparaíso foi a principal inspiração, já que está a 100 quilômetros de Santiago.”

Latina e universal

“Nós entendemos desde o princípio que havia um caráter estético que teríamos que captar de distintas partes da América Latina para dar um sentido regional à série. No roteiro também. Nós queríamos um roteiro neutro de algum modo, que permitisse que o humor, por exemplo, pudesse funcionar tanto na Colômbia, quanto na Argentina, no México… E como o Gloob está no projeto desde o início, fomos enviando a eles os roteiros constantemente para ver se isso poderia funcionar no Brasil e as primeiras traduções funcionaram muito bem. Então alcançamos uma certa linha, tanto estética quanto narrativa, que pudesse funcionar para toda a América Latina. Isso a gente pôde comprovar. Na Colômbia a série tem alcançado muito êxito. Os colombianos chegam a pensar que a série é colombiana, reconhecem como uma série própria. Conseguimos captar algo que faz com que eles se identifiquem”.

Distribuição internacional

“É uma série muito latina e, no último terço da produção um distribuidor francês entrou na produção, a Millimage – uma produtora e distribuidora muito reconhecida em toda a Europa – e eles deram também um caráter universal à série, além do caráter regional, latino-americano. Então isso nos abre a possibilidade para que de alguma maneira nosso impulso criativo também ganhe espaço mais internacional”.

Imagem do destaque: Porto Papel, Zumbastico Estudios, extraída de www.senalcolombia.tv

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